PT- BR
A imprensa tentando fazer seu trabalho. E sendo atacada. Dentro da Câmara dos Deputados.
Isso não é um tropeço. Não é “calor do momento”. É sintoma. Sintoma de um país onde parte dos eleitos esqueceu que o poder não é propriedade privada — é concessão pública. E concessão exige transparência. Exige escrutínio. Exige desconforto. E a imprensa é justamente o instrumento que garante esse desconforto saudável. Por isso incomoda tanto.
Quando vejo jornalistas sendo empurrados, expulsos, impedidos de registrar o que acontece ali dentro, eu não enxergo apenas um ato de violência. Eu vejo método. Método de ocultação. Método de controle narrativo. Método típico de quem teme a verdade e precisa distorcer a percepção para sobreviver politicamente. E isso, para qualquer instituição, é um risco enorme de reputação — risco auto-infligido, voluntário e burro.
Não vivemos mais em ditadura. Mas há quem se comporte como se pudesse ressuscitar seus tiques. Desligar a transmissão oficial. Fechar portas. Calçar as paredes com silêncio. Agredir jornalistas. Esse conjunto não é coincidência: é a marcação explícita de quem atravessa a linha e decide testar os limites da democracia. E quando um deputado — ou vários — fazem isso, não estão apenas atacando profissionais da imprensa. Estão atacando a sociedade. Estão atacando o direito de saber. Estão assinando o próprio atestado de canalhas.
Agora, olhando pela lente que conheço há 31 anos — a da comunicação, da crise e da reputação — uma coisa é certa: uma instituição só se sustenta quando enfrenta o dia com clareza. Quando assume responsabilidade. Quando responde, explica, expõe. A Câmara, ao agir dessa forma, se coloca no pior lugar possível: o da opacidade agressiva. E a opacidade, quando vira prática, destrói confiança. Destrói narrativa. Destrói legitimidade. E cada episódio como esse cava mais um buraco na percepção pública.
A pergunta é simples: qual projeto de país nasce do ataque à imprensa? Nenhum que preste. Nenhum que respeite a democracia. Nenhum que sobreviva ao escrutínio.
E talvez seja por isso que alguns tentam impedir o escrutínio. Mas não funciona. A verdade sempre acha uma brecha. Sempre escapa. Sempre retorna. Com mais força. E com o peso das consequências.epetir?




